|
Não é sem profunda consciência da relevância deste momento que Migalhas leva avante suas análises e comentários sobre o
pleito que se avizinha.
Como bem sabem os leitores, derrama–se o Direito por várias vertentes das relações humanas. Nenhuma, no entanto, ombreia–
se à importância polÃtica de velar pela legitimidade da captação da vontade do povo quando indica seus governantes.
Jovens, os migalheiros desconhecem que nem sempre entre nós as eleições fluÃam com a segurança e paz de nossos tempos. Até
1930 – e foi esse, segundo se dizia, um dos motivos impulsionadores da revolução que depôs o presidente Washington Luiz –, as
eleições eram presididas pelo poder polÃtico local, a propiciar a perpetuação das lideranças de toda e qualquer forma, até as mais
imorais e ilÃcitas. Campeavam as fraudes, os mortos votavam e os eleitores eram contidos nos currais urbanos dos chefes
polÃticos.
Absolutamente diferente é o panorama eleitoral atual. Hoje reina a democracia, apesar dos defeitos e das fake news. E a
democracia é bela por propiciar a convivência harmoniosa dos contrários, a interação pacÃfica dos opostos. Se não houvesse a
democracia, fatalmente se avançaria nas eleições com espÃrito maniqueÃsta, como se um pleito fosse uma sangrenta luta do bem
contra o mal ou uma guerra bárbara de mouros contra cristãos.
Mas definitivamente não é esse o fundamento dos ideais democráticos.
Por isso, quando se ouve do futuro presidente da República que vai fuzilar o outro grupo, prender na masmorra, fazer valer a lei
"no lombo", é bem o momento de o Judiciário compreender seu papel nos freios e contrapesos. E, como tal, pôr um freio de
arrumação nesse cenário de belicosidade.
Aliás, nunca é demais revisitar o passado e lobrigar o nascedouro das hostilidades. Com efeito, isso surge, em grande parte,
quando Judiciário e parquet, com ajuda da imprensa fácil, passam a fazer do combate à corrupção uma guerra sectária. O
resultado é esse: deu no que deu.
Agora, arrumando o que deve ser arrumado, a última trincheira do cidadão deve voltar a ter seu papel primordial de garantidor
dos direitos, sob pena de, além de ter contribuÃdo para o inóspito clima, ser o causador do caos.
Por fim, é preciso lembrar que todos que ingressam na vida polÃtica fazem–no com os mais respeitados propósitos e, por isso são
merecedores de nossa mais elevada consideração. Sair vencedor ou vir–se derrotado são contingências do momento polÃtico, que
não afastam a honorabilidade dos candidatos.
Nesse sentido, tão logo seja amainado o calor do pleito, a hora, obrigatoriamente, deve ser de conciliação, de harmonização dos
contendores, de se darem as mãos em prol do bem comum. Porque de todos e com todos, eleitos ou não, há grandes ideias a
aproveitar, há inestimáveis lições a aprender. |